Os sistemas de gestão de armazém surgiram a partir da segregação das operações logísticas por parte das grandes empresas com os seguintes objetivos: redução de custos operacionais; redução dos trabalhadores associados a categorias com forte poder de negociação; redução do risco de interrupção da expedição em caso de greve na unidade de produção; melhoria da segurança interna pela redução do fluxo de entradas e saídas de veículos e pessoas estranhas à empresa; aumento da área produtiva da planta industrial e eliminação de custos logísticos adicionais em função da oscilação das vendas.
As funções de recebimento, armazenagem, separação e expedição passaram a ser exercidas por empresas exclusivamente dedicadas à logística interna, cujos procedimentos e objetivos são bem diferenciados dos tradicionais portos secos (armazém alfandegado e entrepostado)[1] e armazéns gerais[2] usados, por exemplo, pelas cooperativas agrícolas.
A rentabilidade deste tipo de operação passou a depender da especialização do trabalho com uso de recursos computacionais orientados exclusivamente às funções de logística interna (atividades circunscritas ao armazém). Os operadores logísticos, por razão de existência, obrigam-se a terem custos operacionais inferiores ao de seus depositantes, o que significa: máximo aproveitamento da área de armazenagem e equipamentos de movimentação de materiais e redução de custos salariais (DI GIORGI, 2011f. Online). Para tanto, o processo integral da logística interna passou ser controlado com o mesmo instrumental computacional usado no controle de processo industrial em série, especialmente, o “chão de fábrica”.
As exigências funcionais do comércio eletrônico acentuaram ainda mais esta transformação devido ao: maior fracionamento da separação (mais de 50% dos pedidos de venda tem apenas um item); aumento da variedade de artigos (centenas de milhares); diversidade logística entre as categorias (exigência de recursos específicos para armazenagem e movimentação); diversidade de valor unitário exigindo áreas de acesso restrito; aumento do nível de atividade[3] e elevados níveis de serviço a serem cumpridos em razão do tempo de entrega ser um importante fator competitivo.
O aumento generalizado da produtividade com alto nível de automação[4] força a centralização do comando e controle de todas as operações a fim de garantir a efetividade das determinações gerenciais no cumprimento dos tempos padrões e níveis de qualidade preestabelecidos.
A diversidade de mercadorias, de estruturas de armazenagem e de equipamentos de movimentação, associada à necessidade de automação, necessariamente, aumentam a complexidade e o nível de generalidade (abstração) do sistema. O sistema torna-se independente da natureza da mercadoria a ser trabalhada, garante a rastreabilidade de todas as mercadorias recebidas (dada uma unidade de determinada mercadoria, pode-se saber a nota fiscal do fornecedor pela qual foi recebida) e, por lógicas internas, torna-se capaz de tratar todas as excepcionalidades que ocorrem com as mercadorias desde o recebimento até a expedição.
A mesma plataforma de controle virtual do trabalho usada pelos demais módulos passa a controlar a harmonia entre vários subprocessos disjuntos e simultâneos: o recebimento de mercadorias, a armazenagem, a separação e a expedição, com a possibilidade de deslocamento de recursos entre os subprocessos em caso de sobrecarga localizada.
Enquanto a captura do pedido pela Web Store dispensa a intervenção humana e o e-ERP é extremamente poupador de mão de obra administrativa, o manuseio da mercadoria ainda absorve muita mão de obra, razão pela qual tem sido objeto de muita pesquisa em sistemas de informação e automação de mecanismos físicos de para armazenagem e separação de mercadorias. Rifkin ressalta:
“A automação está substituindo trabalhadores em todo o setor de logística. A Amazon, que é uma varejista virtual tanto quanto empresa de logística, está utilizando veículos inteligentes, robôs e sistemas de armazenagem automatizados em seus depósitos, eliminando o trabalho manual, menos eficiente, em cada etapa da cadeia de valor logística com o objetivo de chegar o mais próximo possível do custo marginal de mão de obra zero” (RIFKIN, idem, p. 152)
Dada sua importância, segue a descrição funcional detalhada do sistema.
Funções fundamentais do WMS
a) Recebimento de mercadorias
O recebimento documental ocupa-se da comparação entre o pedido de compra e a nota fiscal de do fornecedor, enquanto o recebimento físico se preocupa em verificar a real natureza, analisar seu estado e contá-los para que possam estar disponíveis para serem armazenados. O rigor desta operação é outro traço distintivo do comércio eletrônico devido ao fato da oferta do item ser virtual, ou seja, estar associado ao seu código, assim, qualquer erro de identificação é impossível de ser corrigido.
b) Armazenamento
Aproveitamento de espaço e a aceleração do fluxo de mercadorias quase sempre são enfoques conflitantes a serem resolvidos através da adequação automática entre o nível de rotação de estoque da mercadoria e a acessibilidade do endereço em que ela deve ser armazenada. Com isso, somente cabe ao estoquista, com base numa ordem de produção, colocar lote da mercadoria no local indicado pelo sistema, cujo tempo de execução é controlado.
c) Programação da expedição
Semelhante à programação de produção industrial, a decisão de selecionar os pedidos a serem expedidos é orientado pela agenda de embarque das transportadoras e pela maximização do tempo útil dos separadores considerando o tipo de mercadoria. Isso implica conhecer a carga de trabalho associada, a disponibilidade de recursos, o peso e o volume totais por rota de entrega e transportadora e o horário de início e término de carregamento de cada embarque. O WMS fornece amplo suporte a esta decisão a partir de simulação com critérios de seleção dos pedidos a serem atendidos (data de entrega, região de destino, transportadora, volume e peso agregados etc.).
d) Separação, embalagem e carga
A separação das mercadorias é feita por ordens de serviço correspondentes aos pedidos selecionados. Caso a separação não seja realizada por um sistema automatizado, cada ordem de serviço, discriminando vários pedidos, corresponde a uma viagem a ser executada por um separador. Nesta lista constam os endereços dos locais onde se situam as mercadorias a serem separadas associadas aos pedidos correspondentes. As mercadorias separadas por pedidos são embaladas em caixas, previamente etiquetadas e as mercadorias nelas constantes são novamente conferidas para evitar itens faltantes ou excedentes, evitando devoluções por erros da logística interna. Uma vez fechados os volumes (embalagens de transporte), o sistema permite a elaboração do manifesto de carga, agrupando os volumes que serão carregados num determinado veículo anteriormente apontado pelo módulo de portaria.
e) Generalização do processo logístico eliminando especialidades comerciais
O sofisticado Sistema de Gestão do Armazém é um traço marcante do comércio eletrônico. A concorrência neste mercado obrigou a expansão da variedade e a contínua redução do prazo de separação. Assim, o trabalho de logística interna apoiado pelo sistema computarizado se abstraiu da natureza, estado e lote da mercadoria, da quantidade de depósitos, dos equipamentos de movimentação e das estruturas de armazenagem, transcendendo ramos comerciais.
f) Automatismos do WMS em resposta à demanda do comércio eletrônico.
As principais mudanças incorporadas ao sistema pelas necessidades concorrenciais do comércio eletrônico são: processamento em tempo real com uso de coletores em rede de rádio frequência; possibilidade de gerenciar vários depósitos simultâneos (a B2W possui 11 centros de distribuição no Brasil[5]); independência em relação à natureza das mercadorias; rastreabilidade quanto à origem e de processo; inventário sem paralisar as operações; centralização de comando e controle operacional; endereçamento automático na armazenagem; separação por onda (por item com quantidades consolidadas resultante dos pedidos a serem separados) ou por pedido, com indicação do local e quantidade a retirar; simulação de programas de expedição; atribuição dinâmica de serviço reduzindo a descontinuidade do trabalho; controle do desempenho operacional por atividade e por operador; cálculo da rotação de estoque por item, por categoria e global; e, detecção automática de desvios operacionais baseada em tempos padrões.
[1] Terminal terrestre diretamente ligado por estrada e/ou via férrea e/ou até aérea, sendo um depósito alfandegado localizado na zona secundária (fora da área do porto que recebe a carga consolidada) geralmente no interior. Recebe as cargas ainda consolidadas, podendo nacionalizá-las de imediato ou trabalhar como entreposto aduaneiro. Dessa forma, o porto seco armazena a mercadoria do importador pelo período que este desejar, em regime de suspensão de impostos, podendo fazer a nacionalização fracionada. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_seco>, acessado em 04/12/15).
[2] Depósito que abriga mercadorias de diferentes proprietários (depositantes), gerenciado por um operador logístico (depositário). As entradas e saídas das mercadorias de um armazém geral são realizadas através de notas fiscais emitidas pelos depositantes.
[3] 49,7 milhões de pedidos foram processados pelo comércio eletrônico no 1º semestre de 2015 (Webshoppers, 32ª edição, ibidem)
[4] A Amazon instalou mais de 15 mil robôs em 10 depósitos nos Estados Unidos, uma medida que promete cortar os custos operacionais em um quinto e entregar produtos mais rapidamente na reta final para o Natal de 2014 <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/12/amazon-usa-15-mil-robos-para-agilizar-entregas-durante-o-fim-de-ano.html>, acesso em 11/12/15
[5]http://www.b2wdigital.com/upload/apresentacoes/00002713.pdf. Acesso em 28/12/2015
Bibliografia
RIFKIN, Jeremy. “Sociedade com custo marginal Zero”. Tradução Mônica Rosemberg. São Paulo: M. Books do Brasil, 2016.