As vendas de vestuário pelo comércio eletrônico no Brasil estão muito aquém do que representam nos EUA e na Europa, onde esta categoria lidera a comercialização no varejo virtual. E por que essa diferença?
Apesar de haver poucas barreiras à produção de vestuário no Brasil, a cadeia de distribuição de mercadoria comporta-se inversamente. Vamos aos fatos…
Por ser um mercado competitivo devido aos poucos obstáculos de entrada, existe ainda muita informalidade, todos perdem com ela: estado, cadeia de valor, produtor e consumidor. A informalidade distorce o mercado.
A ausência de normatização de tamanhos para as roupas brasileiras é outro entrave para que o segmento cresça no e-commerce, questão há muito tempo resolvida em outros países. Além disso, a indústria de vestuário possui uma produção muito antecipada em relação à venda – a coleção de inverno é produzida no verão. Como conseqüência, a oferta desconhece a demanda e a reposição de itens bem-sucedidos é praticamente impossível.
O grau de conflito entre os canais (venda direta ou indireta) depende da categoria, particularmente, no vestuário o conflito é muito sério. A venda do produtor ao varejista é intermediada por representantes, caso o produtor venda diretamente ao consumidor, tanto os varejistas quanto os representantes seriam prejudicados. Assim, as grandes marcas temem que a venda via loja virtual possa reduzir a venda de suas peças no varejo tradicional. Somente as cadeias de lojas próprias estão livres deste problema. As que não têm lojas próprias ou aquelas que têm lojas próprias combinadas com franquiadas terão, em algum momento, de enfrentar este dilema.
Do ponto de vista do fornecimento, no Brasil, o preço unitário de uma peça independe do tamanho e da cor. Desta forma, o produtor emite a nota fiscal associando a quantidade somente ao modelo e, para piorar, para a maioria dos produtores, todos os tamanhos e cores de um modelo têm o mesmo código.
As remessas do produtor ao varejista são feitas em grandes quantidades. Devido à baixa profissionalização do produtor, é muito frequente o descompasso entre a mercadoria enviada, a nota fiscal e o pedido de compra. Ainda mais complexo é o processo de recebimento, que implica a conferência física da mercadoria. Primeiramente, na conferência documental, usa-se o romaneio (lista de separação do produtor), porém não há certeza da coerência entre este documento e a nota fiscal. A segunda parte é física e consiste em etiquetar (código de barras) as unidades recebidas atribuindo a cada produto um código “inventado” pelo varejista. Por último, é necessário confrontar as unidades recebidas e etiquetadas com a nota fiscal/romaneio. Este processo é caro e lento.
Finalmente, a mercadoria vai para o armazém, que neste segmento possui estrutura de armazenagem especial e demanda muitas posições de estoque. O baixo aproveitamento da área de armazenagem eleva os custos fixos.
Está claro que o mercado de vestuário ainda possui muitas deficiências logísticas no Brasil. O fluxo operacional de toda a cadeia lento e caro, impedindo que o setor cresça sobretudo no comércio eletrônico.
Fernando Di Giorgi
Publicado em https://ecommercenews.com.br/artigos/cases/a-dificuldade-da-venda-de-vestuario-pelo-comercio-eletronico/ em 12 de janeiro de 2012